Com ilustrações personalizadas, eletrodomésticos e
outros materiais se tornam artigos de luxo
Por Nathalia Sandonato
Ter
uma decoração diferenciada entrou na moda. E a classe média não se limita a
apenas ter belos quadros na parede. Tatuadores, grafiteiros e ilustradores
ganham espaço invadindo novas superfícies, esbanjando a arte de rua nas casas
mais chiques Brasil afora. Há quem pague mais de R$ 5 mil para ter os traços do
grafiteiro Chivitz expostos em sua sala de estar, por exemplo.
Ilustração feita por Chivitz em restaurante de São Paulo |
Para transformar geladeiras, elevadores ou a própria roupa em um minimuseu, com
ilustrações e design exclusivos, requer investimento financeiro. Chivitz fez
seu nome ocupando muros e paredes públicas e revela que vive da venda de suas telas,
expostas em galerias de arte, mas engorda o orçamento com o que chama de
“moralismo”, nome capitalista do grafite. “Grafite não tem preço, a gente faz
do jeito que quer, onde bem entende, com o risco de ser detido. Moralismo é a
nossa arte paga”, dispara o artista.
O
nome que virou marca, hoje é procurado para personalizar ambientes e,
principalmente, pontos comerciais. Já fez fachadas de restaurantes requintados
na Zona Sul de São Paulo e desenhou seu boneco característico em espaços
residenciais – geladeiras e paredes. Não revela seu preço, mas assume que o
valor ultrapassa os quatro dígitos.
Fernando ilustra as diferentes superfícies que lhe aparecem |
Já o
designer Fernando Chimarelli viu sua carreira decolar quando divulgou seus
desenhos na internet. O traço, que mistura referências da arte indígena e
peruana com caricatura e art déco, caiu nas graças de galeristas internacionais
inicialmente. Depois
de algumas exposições fora do país, ele passou a receber demandas do mercado
publicitário. Foi convidado para ilustrar uma série especial de geladeiras, tem
seus desenhos impressos em uma linha de mouses de uma gigante multinacional, e
agora deve participar de um evento em que personalizará a lataria de um carro.
Arthur
de Camargo e Maria Fernanda Brum, donos do estúdio de tatuagem e galeria de
arte Analogic Love, na Zona Sul da capital paulista, sempre reproduziam nas
paredes dos estabelecimentos onde trabalhavam um demonstrativo do que eram
capazes de fazer na pele dos clientes. Quem os contrata para decorar ambientes
residenciais, seja através da mediação de decoradores ou do contato direto,
precisa desembolsar R$ 700 por m² e de olhos vendados. O casal não trabalha com
briefing e considera o novo ramo uma extensão do que fazem na pele.
Hall social e elevador com a arte de Fernanda e Arthur |
“Parede
é um conhecimento que a gente possui. Nós sentimos o ambiente e propomos o que
achamos bacana para o cliente. É o mesmo processo que ocorre dentro do estúdio.
Vendemos um trabalho essencialmente autoral”, define Arthur. Além da
customização, os móveis tatuados apetecem quem não tem coragem de ostentar tais
desenhos pelo corpo. “Muita gente não tem o perfil pra se tatuar, ou não gosta,
mas admira o desenho, o traço.”
A
ocupação de novos territórios não é um movimento artístico. Foi provocada por
uma questão de oferta e procura. Coube aos profissionais do ramo aproveitar a
maré para nadar de braçada.
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