domingo, 27 de maio de 2012

A falta d’água

Por Cristiane Alves 


  

Por causa da falta de acesso à água e, ainda, ausência de saneamento, uma criança morre a cada 19 segundos em nosso planeta. O motivo é a diarréia, de acordo com os últimos dados do Relatório de desenvolvimento Humano (RDH), divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). E essa triste situação não mudou, segundo os especialistas. Dentre os maiores problemas estão escassez; poder; pobreza e a crise internacional da água. E existe, ainda, uma possibilidade preocupante: Nesse ritmo, o mundo não conseguirá cumprir a meta dos “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio", que prevê (até 2015) reduzir pela metade a proporção de pessoas que não desfrutam desses recursos.
   Quem leva a pior, nesse preocupante caso, é quem tem menor poder aquisitivo. Devido a essa falta de água potável são registrados, anualmente, cerca de 5 bilhões de casos de diarréia nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. E no mesmo período, a doença tira a vida de 1,8 milhão de crianças (com idade abaixo de 5 anos). Com isso, a média de óbitos chega a 4.900 por dia. É a segunda principal causa de morte infantil, perdendo apenas para as infecções respiratórias. O incrível é que, mesmo podendo ser evitada com medidas simples, a diarréia elimina mais crianças do que tuberculose e malária; seis vezes mais que os conflitos armados e cinco vezes mais que a Aids. 
   De acordo com estimativas desse relatório (RDH), existe cerca de 1,1 bilhão de pessoas sem acesso a água limpa. Desse total, quase duas em cada três vivem com menos de dois dólares (cerca de R$ 4) por dia. Aproximadamente 2,6 bilhões de habitantes moram em domicílio sem esgoto, dentre os quais 660 milhões sobrevivem com essa mesma quantia. “A crise da água e do saneamento é, acima de tudo, uma crise dos pobres”, resume o relatório.





FONTE POTÁVEL
   Foram feitas comparações no relatório demonstrando que, enquanto um habitante de Moçambique usa, em média, menos de 10 litros de água por dia, um europeu consome entre 200 e 300, e um norte-americano, 575 (em Phoenix, no Arizona, o volume ultrapassa 1 mil). No Reino Unido, um cidadão médio usa mais de 50 litros de água por dia dando a descarga — mais de dez vezes o volume disponível para as pessoas que não têm acesso a uma fonte de água potável na maior parte da zona rural da África Subsaariana. Um norte-americano usa mais água em um banho de cinco minutos do que um morador de favela de país em desenvolvimento usa num dia inteiro.
      Pelo fato de ter relação tão estreita com outras áreas do desenvolvimento humano, a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio relacionada a recursos hídricos e instalações sanitárias é crucial para que os outros objetivos também sejam cumpridos. Para atingi-la, será preciso, até 2015, assegurar acesso a água a mais 900 milhões de pessoas e saneamento a 1,3 bilhão. Em geral, o mundo está avançando, mas se for mantida a tendência atual, essas metas não serão atingidas dentro do prazo.
   No ritmo atual, o compromisso será atingido em 2016 (água) e 2022 (saneamento), ainda segundo as projeções do RDH. Esses números gerais, porém, não revelam as dificuldades ainda mais agudas em algumas regiões - sobretudo na região da África abaixo do Saara. A América Latina já cumpriu a meta de água e deve fazer o mesmo com a de saneamento.



MUDANÇA DE HÁBITOS
   A falta de água não é uma decorrência da escassez, sustenta o relatório. A maioria dos países dispõe de água suficiente para satisfazer as necessidades domésticas, industriais, agrícolas e ambientais. O problema está na gestão. O RDH defende um Plano de Ação Global, liderado pelos países do G8, que concentre os esforços para a mobilização dos recursos e coloque a água e o saneamento no centro da agenda de desenvolvimento. O texto sugere como referência os fundos de combate a doenças como Aids e tuberculose, com pouca burocracia.
   De acordo com o professor da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Saldiva, há outros inconvenientes com a água. Se uma pessoa, por exemplo, nadar em rios poluídos (como os que cortam a cidade de São Paulo), pode ter sérios problemas de saúde. “Isso pode causar uma série de processos infecciosos e, se o nadador não primar pela técnica e engolir água, o cenário pode piorar. Ele corre o risco de contrair males como pneumonia; hepatite; conjuntivite e otite”, alerta.
   Não é preciso ter comércio de grande porte ou ser um empresário para fazer sua parte. Pequenas atitudes na casa de um cidadão comum (em qualquer parte do mundo) podem fazer a diferença, como escovar os dentes com a torneira fechada; diminuir o tempo de banho e não utilizar água potável tantas vezes durante a semana para lavar carros e calçadas - com baldes em vez de mangueiras. E existem, ainda, outros hábitos que não dão trabalho e ajudam de verdade: Evitar os “gatos” no fornecimento de água; cobrar agilidade das empresas de saneamento para estancar vazamentos; usar a descarga com moderação e manter torneiras e os registros regulados.

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